PAULA LOURENÇO
(Produtora agrícola)
"Quando os ventos da mudança
sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de
vento"
Érico Veríssimo
Paula Isabel Lourenço, tem 48
anos e é natural da freguesia de Santa Cruz, concelho da Praia da Vitória.
Durante 24 anos trabalhou como auxiliar de educação numa creche e jardim-de-infância
e atualmente é produtora agrícola desde os 42 anos. Foi depois da morte do seu
marido que deu continuidade à empresa e continuou a trabalhar em simultâneo no
colégio. Ao fim de dois anos não conseguiu conciliar ambas as atividades e por
isso abdicou do colégio e ficou com a empresa pensando no futuro dos seus
filhos. Actualmente conta com um funcionário que a ajuda e dividem tarefas,
"raramente estou sozinha, fico na parte da ordenha a tratar dos vitelos, na
limpeza da mesma e na burocracia, que não é pouca". Segundo a
entrevistada, não é tarefa fácil exercer uma profissão maioritariamente
associada ao masculino porque além da atividade agrícola tem à sua conta as tarefas
domésticas, cuidar dos seus filhos e ajudá-los naquilo que for necessário,
"como deve calcular, tenho uma vida extremamente preenchida (...) mas é
gratificante principalmente quando se tem amigo/as para ajudar. É uma
aprendizagem diária". Quando questionada, como foi a sua integração nesta
área e quais as principais dificuldades que enfrentou, a senhora referiu que
"na prática, foi começar do zero" mas tinha muita vontade de
aprender, "claro que não se aprende num dia a lidar com as diversas
situações ou tarefas inerentes à agricultura". As principais dificuldades
que sentiu foi em relação às condições climáticas, com a forma de maneio dos
animais mas sobretudo na preparação da ordenha porque esta tarefa está
relacionada com diversos procedimentos que envolvem toda a maquinaria existente
numa casa de ordenha, "todos estes procedimentos têm, obviamente, uma
enorme responsabilidade". Uma vez que trabalha numa área maioritariamente
associada ao masculino, não se sente discriminada no seu trabalho pelo facto de
ser mulher, no entanto, sente "que poderá haver uma maior abertura no
desempenho das mulheres na agricultura, pois em certos países é normal esta
atividade ser realizada por mulheres (ex: Holanda). Relativamente à sua opinião
acerca das mulheres vítimas de Violência Doméstica, comentou que "felizmente
os tempos mudaram para melhor (...), este tema tem merecido algum destaque na
televisão, jornais, entre outros meios de comunicação (...). Apesar de haver
mais sensibilização para este tema, a nossa sociedade vê com algum conformismo
e indiferença estas mulheres". Para finalizar, à pergunta, “o que acha do
papel das associações que defendem os direitos das mulheres?”, a entrevistada
replicou que "é bom porque estas mulheres têm a quem recorrer para orientá-las"
e que é uma mais valia, "tudo o que seja para defender uma boa causa é
sempre positivo".
Por Adriano Lopes Estagiário na UMAR Açores do curso de Técnico de
Apoio Psicossocial
Publicado na página IGUALDADE XXI no Jornal Diário
Insular de 4 de Julho de 2017
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