segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Destaque do Mês de Julho de 2012

SARA SILVEIRA 
 

Sara Lima Silveira tem 34 anos e é licenciada em engenharia e gestão do ambiente com especialização em gestão e conservação da natureza. Possui mestrado em engenharia do ambiente e é, desde 2009, técnica superior na Secretaria Regional do Ambiente e Mar e presidente da direcção AMPA - IT Associação de mulheres de pescadores e armadores da ilha Terceira desde 1 de Junho de 2011.

O que a motivou a fazer parte da AMPA - IT?
O facto da associação ter passado por uma fase menos boa e de ter estado em perigo de ser encerrada, levou a que houvesse necessidade de eleger para os seus corpos constituintes pessoas com vontade e conhecimentos suficientes para reerguer a associação e realizar um trabalho que permitisse o lançamento e continuidade do projecto Pesca-Turismo e de outras formações que possam dar conhecimentos e ferramentas úteis de trabalho à comunidade onde está inserida. Pessoalmente o que me motivou a encabeçar esta lista como Presidente da Direcção da AMPA-IT foi uma grande vontade de fazer alguma diferença e ajudar de alguma forma a comunidade onde nasci, cresci e vivo até hoje.

Acha que as associações feministas desempenham um papel importante na nossa sociedade actual?
Com certeza, o fomentar do diálogo e da discussão entre membros das várias associações e público em geral sobre questões pertinentes como a igualdade de direitos é sempre uma mais valia e uma contribuição para a abertura de todas as mentalidades.

Já trabalhou como o guarda-florestal de 2001 a 2009. Tendo em conta que é uma profissão associada maioritariamente ao masculino como foi a sua integração?
De início foi um pouco complicado fazia parte de um grupo restrito (onze mulheres guardas-florestais a nível nacional), trabalhei sempre com homens em diversas frentes de trabalho e muitas vezes em locais onde não existiam condições durante estes oito anos, no entanto foi das melhores experiências que tive, fiz grandes amizades, tive excelentes convívios e aprendi muita coisa a nível profissional com as dezenas de operários rurais com quem trabalhei. Consegui ultrapassar todas as dificuldades que me foram aparecendo através do diálogo e sendo uma pessoa muito activa, mas principalmente sendo humilde e sabendo ouvir e aceitar as opiniões/sugestões dos operários que comigo trabalhavam e que já tinham muitos anos de experiência. Criou-se um elo de respeito mútuo e de protecção, eles olhavam por mim e eu por eles.

Alguma vez sentiu que, no exercício da sua profissão, não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher?
No início da minha carreira de guarda-florestal apareceram algumas situações em que senti discredibilidade pela minha opinião nas frentes de trabalho, mas a partir do momento em que mostrei ter o conhecimento teórico e prático das situações que apareciam e que as resolvia sem qualquer dificuldade, esta questão nunca mais se pôs até aos dias de hoje.

Já alguma vez sentiu que era discriminada pelo facto de ser mulher?
Não. Se por acaso alguma vez alguém me discriminou por ser mulher passou-me ao lado, sempre fui uma pessoa muito determinada. Quando traço objectivos na minha vida procuro sempre cumpri-los da melhor forma, sem me interessar sobre o que as pessoas vão pensar ou se vou ser ou não discriminada por isso. Já fiz grandes sacrifícios pessoais, tirei uma licenciatura e mestrado enquanto trabalhava, cuidava dos afazeres de uma casa e criava um filho pequeno.

Como acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade em geral?
Há uns anos atrás a violência doméstica contra as mulheres era vista, infelizmente, com uma naturalidade assustadora, actualmente já é vista como deve ser vista: é um crime punido por lei. A sociedade já denúncia este tipo de violência e já apoia as vitimas, coisa que não acontecia no passado. A sociedade evoluiu imenso nos últimos anos, as pessoas estão mais conscientes do que se passa à volta delas, as mulheres em particular, são mais guerreiras lutam pelos seus direitos e deveres e têm objectivos definidos para as suas vidas.

Quais as perspectivas futuras para a AMPA-IT?
Gostaria que as mulheres ligadas directamente à pesca se unissem mais e participassem mais nesta associação, nomeadamente nas oportunidades de formação e que futuramente a liderassem com rigor e vontade de realizar um bom trabalho.
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 1 de Agosto de 2012
 

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