segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Mulher tem o Direito de aprender a defender-se


Rosa Carvalhal – Vice-Presidente da Direcção da UMAR Açores
 
 
A UMAR Açores está a organizar com a federação de Krav Maga um curso de defesa pessoal para mulheres. Que realidades justificam esta iniciativa?
Muitas mulheres são vítimas de violência doméstica, de violação, de furtos e de roubos, devido à sua frágil constituição física. Publicitam-se cartazes, sobre a violência exercida sobre os idosos, as crianças e as mulheres. Analisando cada grupo por si, constatamos que apenas a mulher é sempre vítima, porque a qualidade de idoso e de criança é sempre temporária e representa apenas um estado da vida. Por essas razões, a mulher tem de aprender a defender-se, não só enquanto criança e idosa, mas sempre enquanto mulher.
 
Sendo que a iniciativa se integra no Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, em que medida as duas coisas se podem interligar?
A violência só poderá ser justificada, quando é exercida em legítima defesa, seja própria seja de terceiros. O agressor é tendencialmente cobarde, aproveitando-se da fragilidade física das suas vítimas e retirando, muitas vezes, prazer do medo que incute sobre as mesmas.
Se constatar que a vítima tem capacidade para se defender e que já não tem medo, é capaz de repensar a sua actuação, uma vez que esta já não o satisfaz da mesma forma.
 
O fenómeno da violência contra as mulheres parece ser endémico nos Açores. Há uma nova mentalidade a despontar ou, pelo contrário, a realidade reproduz-se?
Haverá uma nova mentalidade, porque as vítimas nos Açores estão mais informadas tanto dos seus direitos, como da existência de associações como a nossa, resultado do trabalho de sensibilização realizado nos últimos quinze anos. Neste contexto, as mulheres começaram a ter coragem para denunciar os seus agressores, contudo ainda é necessário desmistificar alguns estereótipos, para se chegar a uma real protecção para as vítimas.
Um exemplo concreto é o facto de na maioria das vezes, ser a vítima obrigada a abandonar o seu lar, para se afastar e proteger do agressor. Por sua vez, o agressor fica confortavelmente a aguardar o resultado da sua conduta, legalmente punível, inclusive em algumas situações, recebendo apoios sociais.
 
O crescimento da violência, sobretudo em contexto familiar, pode estar associado a situações de crise como a que vivemos. O que está a acontecer entre nós que possa ser associado ao actual contexto de crise?
É verdade que o contexto de crise actual poderá potenciar a violência, contudo não podemos minimizar este fenómeno, estabelecendo um paralelismo entre precariedade económica e índices de violência doméstica. O trabalho diário no terreno, demonstra que a violência doméstica e de género é um fenómeno transversal a todas as classes sociais.
 
 
Publicado no Jornal Diário Insular de 8 de Novembro de 2014


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