Um em cada seis jovens acha normal
forçar relações sexuais
A UMAR - União de Mulheres Alternativa e
Resposta apresentou novos dados do trabalho de investigação que está a realizar
sobre a violência no namoro. Os resultados indicam que há “ideias de poder e
controlo” enraizadas, mas a sociedade está mais atenta e há mais denúncias
A Associação está preocupada com o facto
de 22% dos jovens aceitarem as manifestações de vários tipos de violência
registadas em relações de intimidade.
Foram inquiridos 2500 jovens, com idades
entre os 12 e os 18 anos, e os resultados que se obtiveram demonstram quadros
comportamentais e ideias consideradas inquietantes.
O estudo apresentado pela UMAR a 12 de
Fevereiro, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do
Porto, distingue três tipos de violência: psicológica; física; e sexual. No que
à violência sexual diz respeito, 32,5% dos rapazes (em oposição a 14,5% das
raparigas) acham normal que se force as relações sexuais – uma média de 16%,
considerando todos os inquiridos.
O quadro da violência sexual não inclui
apenas as relações sexuais forçadas, nele cabendo também uma série de
comportamentos sexuais definidos como violentos que 23% dos inquiridos
consideraram legítimos. Ainda que quase um quarto dos jovens portugueses
aceitem a "normalidade" deste tipo de agressão, só 4,5% assumem terem
sido vítima desses comportamentos.
A violência psicológica é encarada como
aceitável por quase um quarto dos jovens portugueses, e 8,5% consideram já ter
sido vítima dela. Já a violência física é menos tolerada pelos jovens, sendo
ainda considerada legítima por 9% dos inquiridos e com 5% destes a assumirem
terem sido alvo de agressões.
Este trabalho de investigação, enquadra-se
num programa de prevenção da violência, e não se resumiu à realização de
inquéritos e desenvolvimento do estudo apresentado. A UMAR realizou um conjunto
de sessões de sensibilização para prevenir a violência junto dos jovens e foi
durante essas acções que detectaram “quão enraizadas estão as ideias de poder e
controlo”, frisou Ana Guerreiro. “É difícil analisar estes números, e mais
ainda ter os jovens à frente e constatar estes comportamentos”.
As agressões entre namorados, e também
entre ex-namorados, só foram incluídas no âmbito do crime de violência
doméstica, previsto no Código Penal, em Fevereiro de 2013. A Polícia de
Segurança Pública recebeu em 2015 mais queixas por violência no namoro do que
por violência entre cônjuges, mas 77% dos inquéritos abertos pelo Ministério
Público por este tipo de crime são arquivados, na maioria das vezes por falta
de provas. O relatório anual do Ministério da Administração Interna descreve o
destino dos poucos casos que conseguem chegar às salas dos tribunais: “De um total
de 2954 sentenças transitadas em julgado entre 2012 e 2014, cerca de 58%
resultaram em condenação e cerca de 42% em absolvição. Na maioria das
condenações (96%) a pena de prisão foi suspensa”.
Para Maria José Magalhães, presidente da
UMAR, tudo isto é produto de uma cultura que "está na base do femicídio,
da violência doméstica, da falta de respeito pelos direitos humanos em geral”.
Na última década, morreram 398 mulheres vítimas de violência doméstica em
Portugal.
Fontes: www.umarfeminismos.org e texto de Zita Moura / Jornal Público
Publicado na página IGUALDADE XXI no Jornal Diário
Insular de 3 de Março de 2016