terça-feira, 20 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher – 8 de Março


Por que razão continuamos a comemorar, ano após ano, o 8 de Março?

Não alcançaram já as mulheres todos os seus direitos? Não existem mulheres nas mais diversas profissões? Não são as jovens mais bem sucedidas na escola do que os rapazes?

Para entender porque razão continuamos a comemorar o dia, é necessário conhecer o contexto histórico, social e cultural europeu.

Com o surgimento da Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX, as pessoas passaram a trabalhar em fábricas onde o modo de produção já não era artesanal mas sim industrial.

Nas fábricas trabalhavam homens, mulheres e crianças desde os 5/6 anos de idade. Estes operário/as tinham más condições de trabalho, um horário sobrecarregado, e eram explorado/as. As mulheres e as crianças recebiam menos pelas mesmas tarefas.

Devido ao facto de receber menos pelo mesmo trabalho, a 8 de Março de 1857, um grupo de operárias de uma fábrica de vestuário e têxteis em Nova Iorque fez uma grande greve. Estas ocuparam a fábrica para reivindicarem os seus direitos:


- Redução da carga horária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário);

- Equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho);

- Tratamento digno no local de trabalho;


Esta manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num acto totalmente desumano.

Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de Março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem às mulheres que morreram na fábrica em 1857. Só muito mais tarde em 1975 – Ano Internacional da Mulher, esta data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas)

Nessa altura, em Portugal também se vivia uma revolução, no rescaldo do 25 de Abril de 1974. Devido a tal contexto, em 1976 foi criada a UMAR – União de Mulheres Antifascistas e Revolucionárias, por um grupo de mulheres que queriam lutar pelos seus DIREITOS. A UMAR mais tarde passou-se a chamar – União de Mulheres Alternativa e Resposta, e nos Açores – Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres.

Esta associação continua a lutar pelos direitos das Mulheres nomeadamente o direito à educação, direito ao emprego e a salário igual, direito a melhores condições de vida, direito à contracepção e à interrupção voluntária da gravidez, direito à paridade nos órgãos de decisão politica, luta contra a violência de género.

Em Portugal, actualmente todos os anos morrem às mãos dos maridos, companheiros, ex-companheiros, namorados dezenas de mulheres. Por exemplo, só no ano de 2010 morreram em Portugal 43 mulheres vítimas de violência doméstica. De facto no mundo inteiro, “A violência contra as mulheres no espaço doméstico é a maior causa de morte e invalidez entre mulheres dos 16 aos 44 anos, ultrapassando o cancro, acidentes de viação e até a guerra.” - Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, 2002.

Em média em Portugal, as mulheres continuam a ganhar menos do que os homens. Verificamos que, nas escolas a tão apregoada igualdade entre rapazes e raparigas, não é bem assim, pois a violência no namoro começa a ter visibilidade. Nos empregos, o assédio moral e sexual atinge principalmente as mulheres. As penalizações laborais em função da maternidade continuam a existir, apesar das leis o proibirem. A almejada paternidade, por parte dos homens, não é bem vista por muitas entidades patronais. Continuamos a verificar que o poder político é ainda muito cinzento, de fato e gravata. Tem pouca cor. Tem poucas mulheres. Continuamos a ver que no mundo há mulheres que são apedrejadas até à morte por terem tido um relacionamento fora do casamento. Existem milhares de jovens raparigas que são mutiladas sexualmente e que são forçadas a casamentos precoces.

Por todas estas razões assinalar o dia 8 de Março continua a ser fundamental. É necessário, denunciar as situações de discriminação que ainda hoje acontecem de forma a diminuir as desigualdades de género masculino / feminino e desta forma incentivar homens e mulheres a valorizar o papel da mulher na família, no trabalho e na sociedade em geral.

Afinal, este ainda não é bem o mundo da justiça e do equilíbrio de poderes entre mulheres e homens. E, enquanto assim for, vale a pena falar do dia internacional das mulheres. Não apenas para se lhes oferecer uma flor nesse dia, mas para lembrar que elas têm de ser tratadas com igualdade de direitos.


Mariana Ornelas
Psicóloga da UMAR Açores / CIPA
Delegação da Terceira

Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 20 de Março de 2012.

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